https://revistas.ufrj.br/index.php/interfaces/announcement/view/727

Chamada para publicação V. 32, Nº 1 – janeiro-junho 2022

Há séculos conhecido como o continente sem História, em meados do século XX a África foi um dos centros de atenção do mundo contemporâneo por diversos motivos: a cultura e a política estiveram embricadas de modo único antes e durante o processo de descolonização, bem como posteriormente, com a finalidade de construir identidades nacionais africanas. A valorização das culturas africanas – sempre no plural, importante mencionar – estava intimamente relacionada a uma nova imagem que se queria construir e projetar para o mundo: a literatura, a música, a gastronomia, as artes e a história africana pré-colonização eram tão dignas quanto as suas equivalentes ocidentais e deveriam ser conhecidas.

Ao longo dos séculos, os signos África negro, segundo o filósofo camaronês Achille Mbembe (2018), foram esvaziados e preenchidos com imagens estereotipadas; no século XIX, por meio da “ciência” houve até quem tentasse explicar as causas do suposto atraso intelectual, moral e cultural dos africanos, resumidos simplesmente à categoria de negros. Ainda segundo Mbembe, o que houve foi uma territorialização da raça e uma racialização do território, por isso ainda hoje há quem se refira à África como o continente negro, embora tal nomenclatura seja demasiado reducionista e não dê conta das complexas relações étnico-raciais que sempre existiram no continente.

Apesar dessa perspectiva ainda não ter sido totalmente desconstruída no imaginário ocidental, o continente africano tem sido cada vez mais destacado não só no cenário econômico global – os investimentos pesados da China em países africanos indicam que o continente de onde a humanidade veio será o continente para onde retornaremos –, mas na cena cultural e do pensamento. Nomes como os dos escritores Chimamanda Ngozi Adichie e Mia Couto, do arquiteto Diébédo Francis Kéré, da socióloga Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí são apenas alguns dos exemplos de profissionais e intelectuais que tem se destacado em seus campos de atuação.

Portanto, o presente número da Interfaces tem por objetivo acolher trabalhos que versem sobre a relação entre África e outros campos do saber (filosofia, sociologia, antropologia etc.) e da cultura (literatura, música, artes plásticas, arquitetura, etc.). A representação do continente africano, independente dos mais de 50 países que o constituem, e de seus habitantes, é igualmente do nosso interesse.

Editor convidado: Leonardo Vianna da Silva

PRAZO PARA SUBMISSÕES: 30 de junho de 2022